Por Claudia Baibich
Há duas palavras em sânscrito muito utilizadas por budistas que são traduzidas como "compaixão".
Uma delas é karuna, que significa compaixão ativa e uma disposição para sentir a dor dos outros. A outra palavra, metta , significa bondade; uma benevolência para com todos os seres livres do apego egoísta.
Karuna é usada para nominar o conceito budista sobre a capacidade de amar de forma universal, desprovida de passionalidade mundana (sendo bastante diferente do amor convencional - em sânscrito: priya, kama ou trishna).
Esse conceito é intensamente carregado de apelo solidário, misericordioso e compassivo.
Esse sentimento deveria estar presente como premissa básica em todas as relações humanas, ou buscado como modelo de perfeição a ser atingido, como meta de crescimento individual e coletivo.
O símbolo antropomórfico para karuna é a divindade Kuan Yin ("Aquela que ouve os gritos do mundo."), cultuada especialmente no budismo chinês. E também a deusa Tara mais cultuada pelo budismo tibetano.
Karuna, no entanto, não pode ser prerrogativa exclusiva de um círculo encantado, mas sim uma identificação sinfônica com as massas, partilhando o seu sofrimento e o prazer da mesma forma.
Sua "ação compassiva" deve estar presente na prática cotidiana; na liderança sindical; no relacionamento entre patrões e empregados; na militância dos direitos humanos; na luta dos camponeses; no voluntariado, no respeito ao espaço do outro; na aceitação das diferenças. Apenas apreendendo Karuna, nessa totalidade teórico-prática conseguiremos "amenizar os sofrimentos do planeta - amenizar os nossos sofrimentos.
Ao longo dos séculos, representações visuais de Kuan Yin sublinharam sua forma, ágil fluindo, assim como o salgueiro em si, que tem a capacidade de dobrar durante o mais ferozes ventos e depois saltar para trás em forma novamente.
Na verdade, quem quer ficar rígido como o carvalho alto com rachaduras e colapsos durante uma tempestade?
Em vez disso, é preciso ser flexível como o salgueiro, que sobrevive à tempestade.
Movidos pela karuna, Bodhisattvas atuam nas individualidades e coletividades planetárias afim de auxiliarem a superação de carmas e o acúmulo de méritos.
As práticas mais contemplativas baseiam-se na vivência meditativa; recitações de sutras e mantras. Na atualidade Karuna "saiu" do domínio exclusivo dos ensinamentos budistas e permeou esferas diversas, com releituras conceituais e metodológicas.
Por Claudia Baibich
Referências
Cabezon, Jose Ignacio. budismo, Sexualidade e Gênero : Delhi, 1992.
Colin, Didier. Dicionário de Símbolos, Mitos e Lendas: London, 2000.
Farrer-Halls, Gill. A Face Feminina do budismo: Illinois, 2002.
Nenhum comentário:
Postar um comentário